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O modelo de agricultura urbana em Havana é exemplo | Foto: Natália Diniz |
Por Sinan Koont em
Monthly Review
Durante os últimos quinze anos, Cuba desenvolveu um dos exemplos mais bem-sucedidos de agricultura urbana no mundo. Havana, a capital de Cuba, com uma população de mais de dois milhões de pessoas, tem protagonizado um papel proeminente, se não dominante, na evolução e na revolução deste tipo de agricultura. A expressão "agricultura urbana em Cuba" tem um significado algo diferente, simultaneamente mais e menos restritivo do que pode parecer à primeira vista. É mais inclusiva, visto que ocupa extensões mais amplas, franjas urbanas e terrenos suburbanos.
Por exemplo, toda a área cultivada da província Cidade de Havana está ocupada com agricultura urbana. A definição inclui terreno que é muito mais rural que urbano – alguns dos municípios da cidade nas partes este e sudoeste têm densidades populacionais relativamente baixas, cerca de 2300 a 3500 pessoas por milha quadrada [1 milha quadrada=2,59 quilômetros quadrados. N.T. ], contra 50 000 a 100 000 pessoas por milha quadrada nas partes mais densamente povoadas. Como resultado, mais de 35 000 hectares (mais de 87 000 acres) de terra estão a ser utilizados com agricultura urbana em Havana [1]! O desenvolvimento sério da agricultura urbana em Cuba começou em simultâneo com o desaparecimento de petroquímicos, como fertilizantes e pesticidas, dos mercados cubanos. Consequentemente, a produção urbana utiliza apenas fertilizantes biológicos e técnicas de controlo de pragas biológicas e culturais. As quantidades limitadas de petroquímicos disponíveis são empregues numas poucas culturas não-urbanas como o açúcar, as batatas e o tabaco. Em Cuba, a distinção entre orgânico e urbano é difícil de fazer, visto que quase toda a agricultura urbana segue práticas orgânicas.
A necessidade sentida por Cuba de se virar para a agricultura urbana e orgânica no início dos anos 1990 é bem conhecida e compreendida. O colapso da União Soviética e o fim do comércio no âmbito do COMECON em condições bastante favoráveis ditaram o fim da agricultura industrial de tipo soviético, de larga escala, que Cuba vinha praticando desde, pelo menos, os anos 1970. Quase de um dia para o outro, o gasóleo, a gasolina, caminhões, maquinaria agrícola, peças sobressalentes para caminhões e maquinaria, bem como fertilizantes e pesticidas de base petroquímica, tornaram-se bastante escassos. Perante a crise severa na produção de alimentos, uma viragem para a agricultura urbana pareceu ser uma solução óbvia e necessária: a produção urbana minimizava os custos de transporte e a produção de pequena escala minimizava a necessidade de maquinaria. A produção agro-ecológica (aplicando os princípios da ecologia às práticas agrícolas), em parte, necessitava de zonas de produção perto das áreas de habitação de grande concentração de pessoas e, ao mesmo tempo, evitava a utilização de fertilizantes e pesticidas petroquímicos tóxicos que haviam deixado de estar disponíveis.